Continuação...
Pois igualmente era o Rio Grande, até então, uma região conflagrada, "disputadíssima" por Espanha e Portugal. Apenas nesse final de século XVIII, coincidentemente no mesmo ano em que a seca dizimou o rebanho cearense, assinou-se o Tratado de Santo Ildefonso (1777); a partir daí, a pacificação entre as duas metrópoles permitiu que se trabalhasse, pela primeira vez, com certa tranquilidade e sossego nos latifúndios rio-grandenses.
Em 1779, com visão empresarial, José Pinto Martins, vindo do Ceará, estabeleceu às margens do arroio Pelotas a nossa primeira fábrica de salgar carnes, utilizando um processo diferente, mas semelhante, ao da carne-de-sol ou carne-do-sertão, que aqui chamamos charque de vento.
Essas forquilhas recebem varões transversais destinados a estender a carne seca no tempo das charqueadas. Ao lado desses secadouros existe o edifício onde se salga a carne e onde é construído o reservatório, denominado de tanque". Fonte: http://www.charqueadasaojoao.com.br/historia.htm
Sendo o charque o principal alimento dos escravos, e sendo o escravismo o sistema dominante no Brasil, como em outras partes do mundo, não é difícil imaginar a repercussão econômica desse empreendimento.
Aos poucos, porém e à medida que os negócios foram prosperando, todos começaram a perceber que era conveniente edificar residências urbanas num lugar menos distante dos seus casarões rurais. Desde 1812 havia se estabelecido um povoado, com sua igrejinha e algumas casas esparsas, nesse lado de cá do São Gonçalo, mais precisamente entre as atuais avenida Bento Gonçalves e rua General Neto.
Quase simultaneamente à instalação da primeira Câmara administrativa e da primeira escola pública, e exatamente num terreno entre ambas, construiu-se um teatro, que hoje é o mais antigo do Brasil em funcionamento.
Em 1865, logo no ínicio da Guerra do Paraguai, escrevia o príncipe consorte Gastão d'Orleans, o Conde d'Eu:
"Depois de ter percorrido por duas vezes em toda a sua largura a Província do Rio Grande do Sul, depois de ter estado em suas pretensas vilas e cidades, Pelotas aparece aos olhos cansados do viajante como uma bela e próspera cidade. As suas ruas largas e bem alinhadas, as carruagens que as percorrem (fenômeno único na Província), sobretudo os seus edifícios, quase todos de mais de um andar, com suas elegantes fachadas, dão idéia de uma população opulenta. De fato, é Pelotas a cidade predileta do que eu chamarei a aristocracia rio-grandense..."
Foto: http://picasaweb.google.com/lh/photo/flmdIR3PQyWcsG8-HmPCgg
Durante a chamada República Velha (1890-1930) haverá uma reorientação geográfica dos elementos produtivos do já então Estado do Rio Grande do Sul. A economia gaúcha, de eminentemente pecuária e baseada na exportação de charque e couros, passará a uma economia eminentemente policultora e com ênfase no mercado local.
Neste momento Pelotas já não será o núcleo quase exclusivo da industrialização de produtos pecuários que havia sido no século XIX. Surgirão os frigoríficos e o charque sofrerá uma grande queda de produtividade.
Pelotas vai se dedicar a outras frentes econômicas, sobretudo à cultura do arroz e ao cultivo de frutas de clima temperado, sobretudo o pêssego.
Fonte: Este texto são partes da belíssima introdução feita por Mário Osório Magalhães no Livro Oficial do Centenário Esporte Clube Pelotas. Para conhecer esta obra em sua plenitude, adquira este magnífico trabalho na Loja do Esporte Clube Pelotas.
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